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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Acabou

Acabou.

Tão simples quanto essa palavra, tão pouco e tão muito.
Acabou.

Hoje eu tive minha última aula na faculdade.
Hoje foi a última noite que passei com meus colegas, companheiros, e alguns, amigos-“todinho”-de-todas-as-horas-de-confiança-de-privada.
Não! Calma... Eles não estão com câncer em estado terminal, nem morrerão atropelados todos de uma vez na próxima atravessada de rua. Não! Pelo menos eu acho que não...
Quando eu digo que acabou, eu falo do período de quatro anos. O relacionamento como qualquer um que vale a pena e com tudo que tem direito. Acabaram-se as reclamações sobre quão cansativa a ladeira é, sobre a demora dos ônibus, da falta de segurança na parada. Acabou-se o cansaço de está o dia todo na rua e ter que fazer uma prova que você não teve tempo pra estudar, acabou-se o medo e a ansiedade pela média semestral... É acabou-se tudo isso. Que bom, não é?
Mas sabe o que mais acabou?
Acabou as conversas de duplo sentido na porta da sala de aula entre uma aula e outra, acabou-se os momentos de intimidade que acontecem numa simples conversa no pé da escada, acabou o consolo certo pra um pé na bunda terrível, acabou a aflição de fazer a prova e de não saber a média semestral, acabou as histórias do fim de semana contadas através de bilhetinhos durante uma aula terrível de didática, acabou-se as piadas sobre nunca ter papel higiênico nos banheiros e as músicas bregas no começo da noite pra aquecer, acabou o medo de descer correndo a ladeira pra pegar o ônibus das 21:40 porque o próximo sairia só as 22:00, acabou-se as gargalhadas e os planos em grupo, acabou a maravilha que é saber que minha amiga não dança porque não sabe e a outra não dança porque não pode, pois isso, por mais que você não saiba agora, é maravilhoso... Acabou tudo isso. E não é tão bom assim.
Eu vou contar um segredo, e eu espero que você não saia por aí contando a ninguém porque afinal de contas, fofoca é bom, mais tem a cara da Dercy Gonçalves, então, é feio pra C@#$%*. Eu não senti tristeza quando sai da escola. A escola era uma tortura. Não o ensino médio, esse foi legal, pra falar a verdade, grandes amigos que eu tenho até hoje, pessoas por quem eu coloco a mão, o braço, o nariz e a orelha no fogo, eu encontrei lá. Mas durante o ginásio, ah, eu tive minha forma peculiar e comum de inferno. A menina calada-nerd-filha-da-professora que não tinha amigos, porque era menina demais. Eu me lembro bem, engraçado é que todos esquecem, mas eu me lembro. Não me arrependo de como as coisas foram, o sofrimento faz você amadurecer. Eu tive minha cota de dor com muita pouca idade pra isso e talvez, graças ao que aconteceu, hoje eu sou quem eu sou, – o que não é lá grandes coisas, diga-se de passagem – pra onde eu vou, e porque eu vou. Mas eu sei. E isso é um pequeno brilhinho de uma imensa esfera de luz colorida. Mas que é minha. Por que eu conquistei. De forma completamente inconsciente e despercebida, mas conquistei.
Há quatro anos começei a estudar, em 2006, eu era aluna universitária – grande merda – mas eu era mais que isso, eu era uma garotinha tinhosa, cabeça-dura, infantil, infantil e infantil que não entendia e nem aceitava a diferença das pessoas e as criticava por tudo. Eu comecei sem saber muito bem onde eu ia parar. Quantas pessoas eu magoei, outras a quem eu nem dei bola. Pessoas boas e ruins e aprendendo... Aprendendo lições de tudo. Acho que por mais que você evite, e por mais que corra e por mais que seja uma merda, por que é uma merda, crescer é inevitável. E você cresce. Eu ainda sou muito tinhosa, cabeça-dura e infantil, a diferença é que agora eu reconheço isso. E eu aceito. E posso trabalhar pra que isso mude.
A minha tristeza talvez seja em parte por isso. Agora ou dá ou desce e se vira nos 30. Os 30 é o resto da sua vida e você não pode fazer de novo. Eu não posso.
Hoje à noite, antes de dormir, provavelmente eu vou chorar. E vou chorar na aula da saudade, e no culto ecumênico e na colação de grau com todos eles lá por testemunhas. Lágrimas são coisas preciosas, se você nunca percebeu, elas só aparecem em momentos que valem à pena ser guardados, sem importar quão triste ou alegre ele foi, mas as lágrimas são testemunhas das impressões verdadeiras de coisas que a gente não consegue explicar com palavras, e que na maioria das vezes, como é típico do ser humano, nem se nota. Hoje à noite, antes de dormir, eu vou chorar como um presente de formatura. Como alguém que sente que parte importante ficou pra trás e que não vai voltar. Hoje eu vou escutar Serenade e chorar, vou sentir saudades antecipadas, vou agradecer, por tudo e por nada. E a tristeza de agora, talvez, um dia, eu consiga descrevê-la com mais precisão e de maneira menos amadora. Essa tristeza que de tão triste, chega a ser linda...