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sábado, 9 de outubro de 2010

Palavras ao vento. Literalmente.

Lá vinha eu andando pelas ruas do Recife, engraçado que depois que você se acostuma em “ter” um carro, você desaprende a andar pelo bom hábito de andar. E isso é ruim, porque eu sempre gostei de andar. Me ajuda a pensar, a me acalmar e eu sempre posso ouvir música sem me preocupar com o possível barulho que o meu cano de escape possa estar fazendo só porque eu passei em cima daquele buraco que o tio Vold conjurou do nada... Mas não é por aí que eu quero ir, eu tenho outro caminho para lhes mostrar. Ao chegar à parada de ônibus, nessas que tem banco e proteção contra o sol, eu fui curtir os benefícios do imposto que eu pago. Sentada esperando o ônibus, uma folha de papel vem voando e fica presa aos meus pés, eu teria apanhado e jogado fora, como era de se esperar, mas no papel a caligrafia era manual, quem escreve hoje em dia tendo o computador que uniformiza, padroniza e “eficientiza” tudo? A curiosidade acabou ganhando da higiene da mulher que lava as mãos de quando em quando...
A despeito do que tinha escrito na carta (sim era uma carta!) preciso lhe informar que o papel estava manchado, sujo, roto e amassado... Talvez tenha caído do lugar onde estaria guardado sem que o dono ou a dona percebesse, ou talvez o autor (ou autora) tenha desistido no meio do caminho... Eu não sei. Mas lhes transcreverei o que eu consegui ler simplesmente porque achei muitíssimo apropriado. Segue.
“Eu não posso negar que você me fez feliz. E que mesmo quando acabou eu mantive a esperança que algum dia você viria me salvar de eu afundando dentro de mim. É engraçado como as coisas são. Achei que você reconheceria a solidão, como dois iguais. O problema é que de tanto você querer ser livre, acabou ficando preso em você e na sua dúvida shakespearena em ser ou não ser. O problema é seu. Eu quis que fosse meu. Mas agora não quero mais.
Eu tenho que lhe dizer que, sim, ainda está doendo, eu vou me permitir ficar assim. Porque um dia, passa. E quando passar eu não volto mais. Quem sabe a gente até não se encontra e toma uma cerveja, e conversa sobre os velhos tempos, e você, fraco como é tentará me enfraquecer, mas quando alguém passa, pelos estágios de dor que tem que passar, e esse alguém passa, é como se o corpo e alma se revestissem de proteção e a dor não pode mais entrar. Por enquanto ainda dói. Ainda. Mas vai passar.
[Aqui tinha um versinho, eu não consegui ler direito... Minha visão de raio X já tava pifando...]
O que me contenta mais do que qualquer coisa é que agora eu já posso seguir minha vida sem me preocupar em viver uma vida com você. E eu vou. Acredite-me. Não pense que serei infeliz para sempre, ou que te amarei pra sempre (você nem é tão bom assim). Isso é só sua vaidade. Mas do que pra você e principalmente pra mim eu serei feliz, e você se contentará com outros braços, outros lábios e outras manhãs amanhecidas e sem cor ao lado de outros alguéns. Boa sorte, mô. Eu já vou, tá? E não precisa mais me procurar. Nunca mais.

F. D. R.”

Triste saber que essa carta se perdeu no caminho e não chegou ao destinatário. Eu gostaria de ver a pessoa lendo isso. Na dor o desespero aparece, no entanto esse desespero comedido foi de uma classe tão lírica que me fez querer compartilhar com vocês.
Sim! E o mais importante a observar é que antes F. D. R. era só mais um apaixonado. Agora, F. D. R. é poeta.